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sábado, 15 de agosto de 2015

LEMBRAR PARA PROSSEGUIR

Além da porta
Existe paz, tenho certeza
E eu sei que não haverá mais
Lágrimas no paraíso

Eric Clapton

Era menina quando o meu avô morreu. Lembro que minha avó, minha mãe e minhas tias passaram meses vestindo-se de preto. Era a forma simbólica de traduzir a tristeza da perda.




Hoje não nos vestimos de negro ao perder um ente querido. Somos estimulados socialmente para que o nosso sofrimento seja menos "visível", discreto. Tentando nos ajudar a seguir adiante, nossos amigos sugerem que a gente dê um jeito de se distrair, fazer coisas, "esquecer".

Não creio que "abafar" a dor, deixar de falar, seja a melhor maneira de viver o luto. Acredito que para abandonar a tristeza seja essencial lembrar.

Um dos livros que li, “A soma de Tudo”, David Eagleman imagina 40 possíveis mundos que encontraremos após a morte. Entre as possibilidades, há um Além onde os mortos estão todos juntos até o momento em que, na Terra, seu nome é pronunciado pela última vez. Quando isso acontece, alguém vem e leva o morto embora. Esta seria a verdadeira morte.

Tenho um pouco essa fantasia, faço esforços para lembrar e fazer lembrar dos meus mortos, como se quisesse que eles permaneçam, antes da chamada final, o "esquecimento". Afinal, a única forma de mantermos "vivos" aqueles que morreram é na nossa memória.

Por isso lembramos com carinho da filha que estaria aniversariando. Não queremos prantear indefinidamente a partida, nem assumir o papel de "coitada", mesmo porque autopiedade não ajuda a superar a tristeza. Trata-se de lembrar, dizer o quanto valeu a pena estar junto, o quanto ela faz falta, para que a dor possa ir aos poucos suavizando, transformando-se em outra coisa.

Enfrentar as lembranças. Afinal, não adianta fugir, elas lhe espreitam em cada gaveta, nas esquinas, na música que toca no rádio, nos álbuns de fotografia. Juntar os pedaços de memória para construir com eles um mosaico. 

Muitos terapeutas recomendam traduzir a perda em palavras e usá-las para acender clarões no cérebro, encher a penumbra do coração de luz. Palavras podem ser usadas numa terapia, num diário pessoal ou, querendo compartilha-las com outras pessoas, escrevê-las em blog, poema ou livro.

Eric Clapton transformou a dor da perda do filho numa bela canção, Lágrimas no Paraíso, de onde retirei versos que abrem a postagem. Jon Didion transformou em livros "O ano do pensamento mágico", narra a repentina morte do marido e “Noites Azuis”,  escrito pouco tempo depois, a perda da única filha. Will Schuwalbe,  relata a experiência de compartilhar leituras com sua mãe no último ano de vida dela no “O clube do livro do fim da vida”. O blog Do luto a luta, é escrito por uma mãe que perdeu seu filho tragicamente, e criou o projeto Consolação.

Quem não tem facilidade com as palavras, pode realizar outro tipo de atividade, algo que a pessoa que você perdeu gostava de fazer ou que você fazia com ela/ ela. Viajar, caminhar, cozinhar.

Minha avó materna, tem uma história interessante para viver o luto da perda do esposo. A casa que morava foi deixada em testamento para as filhas caçulas, decidiu então, construir, ao seu gosto, uma nova casa com jardim na frente e piscina no quintal (para a alegria dos netos). Aquela casa foi um marco, um recomeço, seu segundo tempo de vida. 


Afinal, para seguir adiante após o recado sombrio da morte, precisamos encarar a dor, reconhecer como é duro aceitar que uma pessoa querida desapareceu, construir uma memória que faça sentido e prosseguir a vida, de forma melhor. É o que estou tentando.

PS- Ramon transformou o perfil do Facebook de Maina num memorial

4 comentários:

Bel 16 de agosto de 2015 às 08:17  

Sequência de arrepios ao ler esse post.
Você está certa, certíssima!!! Relembre, reviva, ponha pra fora os sentimentos... <3
Eu, que tenho os filhos longe, faço questão de pronunciar-lhes os nomes, ainda que seja só entre Deus e eu... Por que? Para que não morram em minha memória? Porque a saudade dói? Porque tudo me lembra eles? Acho que a separação pela distância, como a minha é potencializada na separação pela partida, como a sua. Te compreendo e te abraço.
Beijo, querida!!!

Maria Fulô 17 de agosto de 2015 às 08:26  

Trans-formar, é o maior desafio que enfrentamos ao viver. A morte é inexorável. Entretanto, lidar com a sua certeza e ainda permanecermos "vivos", após a morte dos que amamos umbilicalmente, é tarefa dura e que requer re-construir o muro interno.

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